Boletim Mauc #10 | Blecaute
EU NÃO TENHO MEDO propõe outros olhares sobre as identidades da população negra e periférica do Ceará
com colaboração de Luizete Vicente, do Sobrado Dr. José Lourenço
Acontece nesta terça-feira, 3 de junho, às 10h, no Museu de Arte da UFC, a abertura da exposição EU NÃO TENHO MEDO, primeira individual do artista Blecaute, promovida pelo Sobrado Dr. José Lourenço em parceria com o Mauc. Com curadoria de Lucas Dilacerda, a mostra fica em cartaz até 4 de julho, apresentando um recorte de pinturas que discutem os temas da negritude, ancestralidade, periferia e religiosidade popular.
Ao contrário das imagens de sofrimento e violência que historicamente foram atribuídas ao povo negro, Blecaute mostra outras narrativas a partir de cenas de alegria, coletividade, espiritualidade e força. Seu gesto é político: é possível falar da dor sem reproduzi-la; é possível lembrar das lutas sem precisar revivê-las em sua forma mais cruel.
“Meu trabalho, ao propor novos imaginários para pessoas negras e faveladas, narra histórias de força, ancestralidade, celebração e espiritualidade. O objetivo é não nos limitar a uma experiência de contemplação estética, mas retomar um espaço para afetos, memórias e construção.”
(Blecaute)

Os retratos em EU NÃO TENHO MEDO subvertem a tradição da história da arte ocidental. Gênero historicamente reservado às elites — reis, nobres, clérigos, senhores de escravos —, o retrato é uma ferramenta de manutenção do poder: ser retratado era ser eternizado, ser reconhecido, ser lembrado. Mas o que acontece quando esse poder muda de mãos? Quando quem pinta é um jovem negro periférico e quem é retratado são pessoas comuns da sua comunidade ou figuras negras históricas apagadas dos livros e das telas, o que acontece é revolução. Blecaute subverte o gênero apresentando o retrato como arquivo visual de um povo que insiste em existir mesmo depois de séculos de apagamento.
Na exposição, não vemos apenas imagens — vemos presenças. Presenças que o tempo tentou apagar, mas que a arte insiste em fazer lembrar. E aqui entra o símbolo da sankofa, frequentemente presente nas pinturas do artista: um pássaro africano que olha para trás, ensinando que é preciso retornar ao passado para resgatar o que é essencial à caminhada. A exposição, nesse sentido, é também um dispositivo de memória e luta. É um convite a olhar para trás não com nostalgia, mas com sabedoria. Os que vieram antes de nós sonharam a liberdade. Muitos morreram por ela. E, ao lembrar dessas histórias, aprendemos como seguir lutando — em comunidade, em espiritualidade, em festa e em alegria.

As pinturas de Blecaute são arquivos vivos. Cada rosto é um documento; cada cena, uma página reescrita da nossa história. E se não temos registros oficiais, temos agora retratos que atravessam o tempo e nos dizem “Eu não tenho medo”. A frase, que dá título à exposição e nomeia uma das obras, ecoa como manifesto. Porque lembrar é também lutar.
Mais do artista
Blecaute, 24, é nascido e criado no Conjunto Riacho Doce, no bairro Passaré (Fortaleza-CE). Artista visual e estudante de Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), concretiza estudos e sua visão de mundo enquanto negro e periférico através das artes plásticas.
Como autodidata, começou sua trajetória na pintura digital no final de 2019 e, atualmente, trabalha com diversos materiais e linguagens: “Minhas influências são múltiplas e não se resumem à arte visual e à pintura. Acredito que arte, de modo geral, é uma linguagem, e cada artista narra sua perspectiva a partir do meio e material que se é possível no momento.”
O artista tem passagem por exposições como a Funk: um grito de ousadia e liberdade, do Museu de Arte do Rio e que está, em caráter itinerante, na Instituição Maison Folie Wazemmes em Lille, França. No ano de 2025, fez parte da exposição Abre Alas 20, n’A Gentil Carioca, uma das principais e mais tradicionais galerias do Brasil.
Percursos curatoriais
Em áudio, Lucas Dilacerda, curador da exposição, explica as quatro linhas curatoriais que norteiam a exposição de Blecaute. Também é possível acessar a transcrição aqui.
Convite
Agora em vídeo, e com legenda, é a vez do artista Blecaute fazer aquele convite especial:
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SERVIÇO
Abertura da exposição EU NÃO TENHO MEDO, de Blecaute
3 de junho de 2025, 10h (Adicione o evento na sua Google Agenda)
Museu de Arte da UFC
Av. da Universidade, 2854
Benfica, Fortaleza – CE
Tel: 85 3366 7481
Visitação gratuita de segunda a sexta, das 8h às 12h e das 13h às 17h
Classificação indicativa: livre
Cultura nas Capitais: Mauc é citado em pesquisa sobre hábitos culturais em Fortaleza
Quem vai a teatro, museu, show de música, festas populares e outras atividades? Quais atividades são mais acessadas? Com o objetivo de responder a essas e muitas outras perguntas, uma consultoria da JLeiva Cultura & Esporte, por meio da Lei Rouanet, ouviu quase vinte mil pessoas com idade acima de 16 anos entre fevereiro e maio de 2024 numa abrangente pesquisa quantitativa (Cultura nas Capitais) sobre hábitos culturais em todas as capitais brasileiras.
No contexto dos históricos desafios que gravitam sobre os equipamentos culturais no País, notadamente quanto às oportunidades de acesso da população a espaços públicos, destacamos a presença do Museu de Arte da UFC como um dos mais lembrados em Fortaleza. Numa lista de dez espaços culturais em cada capital, foi perguntado se o entrevistado os conhece, mesmo que só de ouvir falar. Para aqueles que conhecem, foi perguntado se visitou o local pelo menos uma vez. A partir desses quesitos, 38% das pessoas entrevistadas responderam que conhecem o Mauc, mas não o visitaram, enquanto 19% conhecem e já visitaram.
Para quem se interessa pela pesquisa, pode conferir o relatório “Cultura nas Capitais” com os resultados específicos de Fortaleza-CE. Nele, além da sondagem de equipamentos em geral, pode-se encontrar pesquisas sobre acesso a teatros e museus, estilos musicais preferidos e pratos típicos da região.
Expediente
Quem aqui escreve é Regis Torquato Tavares, que, nesta edição #10, contou com a valiosa colaboração de Luizete Vicente, coordenadora de comunicação do Sobrado Dr. José Lourenço - espaço que integra a Rede Pública de Equipamentos Culturais da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult/CE), gerido em parceria com o Instituto Mirante de Cultura e Arte.
Aproveito a oportunidade para anunciar que saiu nova entrevista do Perfil Descartes Gadelha no YouTube, dessa vez com o professor Pedro Eymar. Do tempo, foi um dia desse, em que a timidez e falta de traquejo do jornalista (Euzinho da Silva!) deixaram o entrevistado todo mal microfonado. Espero que a presença marcante do fio dançando na tela não ofusque as belas e precisas palavras de Pedro Eymar sobre o querido Descartes Gadelha.
Já é de lei lembrar que o Museu de Arte da UFC (Mauc) é um equipamento vinculado à Pró-Reitoria de Cultura (Procult UFC).
O Mauc fica na Av. da Universidade, 2854, Benfica, em Fortaleza-CE. O acesso é gratuito e estamos abertos de segunda a sexta (exceto feriados), das 08h às 12h e das 13h às 17h (entrada até 15 minutos antes do encerramento). Também abrimos em alguns sábados previamente divulgados no sítio eletrônico institucional e em nossas redes sociais:
O correio eletrônico é mauc@ufc.br
O sítio eletrônico institucional é mauc.ufc.br
O perfil no Instagram - dá uma piscadinha pra gente lá - é @museudeartedaufc
E o nosso telefone é (85) 33667481